quinta-feira, 17 de maio de 2012

Opinião: Nós somos a Escola Desportiva de Viana

Esta simples homenagem às mulheres e homens que criaram e nos legaram a digna e honrosa Escola Desportiva de Viana, não pode e não deve agora, acabar aqui. Alguns membros já partiram, outros afastaram-se do nosso caminho; outros permaneceram juntos até hoje. Todos os sócios e dirigentes têm a responsabilidade de diariamente continuar com empenho e dedicação a honrar as suas memórias e contribuir para que a Escola continue Digna e Respeitada e cada vez mais forte e organizada. No entanto, o modelo que moldou de certa forma a EDV ao longo destes 36 anos, vive nos dias de hoje realidades diferentes, numa clara lógica de mercado. 

Como se depreende, não pode a EDV ignorar o “mercado” de desporto em que está inserida, e o seu sucesso depende da sua capacidade de mudança e do seu posicionamento face ao mercado emergente do serviço desportivo. Há cada vez mais uma procura das práticas desportivas e físicas, higiénicas e de lazer, e a nossa oferta deve acompanhar essa procura, encontrando desta forma uma missão geradora e potenciadora de recursos financeiros que viabilizem a sua organização.

Qualquer clube, tal como o nosso, que persegue essencialmente o papel educativo, desportivo, social e cultural deve equacionar como poderá cumprir a sua missão tendo em conta as fontes de financiamento a que pode recorrer, sem se dispensar de receber apoios oriundos da Administração Pública, quer canalizados pelo Orçamento de Estado, normalmente através das Federações e Associações ou das Autarquias Locais. Nada disto dispensa porém, uma permanente actividade imaginativa na busca de retirar benefícios da actividade que disponibiliza aos seus associados e à comunidade local. Aqui podemos desde logo enunciar fontes como, o patrocínio, o merchandising, a publicidade e o mecenato. 

A nível internacional, o próprio Conselho da Europa resolveu mandar fazer um conjunto de estudos sobre este assunto. As conclusões são da maior importância para os clubes desportivos e para os decisores políticos. Comecemos por estes últimos. Estes estudos vieram demonstrar a existência de efeitos positivos da prática desportiva na saúde e na segurança. Infelizmente, mostraram também que Portugal é o país da Europa com menor taxa de participação nessa prática. Só 27% da nossa população entre os 15 e os 60 anos pratica algum desporto. Resumindo, estes estudos do Conselho da Europa vieram demonstrar que o investimento público no desporto é largamente rentabilizado através da redução das despesas na saúde e na segurança. 

O investimento público aqui mencionado compreende não só o realizado pelos governos de cada país, mas também, talvez até sobretudo, ao que é feito pelas autarquias, pois compreende dois tipos, o investimento em infra-estruturas que permitam a prática desportiva aos cidadãos, nomeadamente a formação desportiva dos jovens e o investimento nas associações e clubes que praticam desporto de competição. 

Frase de William Shakespeare "É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada." 

O apoio das autarquias aos clubes deve ter sempre estes dois objectivos em vista: o efeito bandeira, pois podem transformar esses clubes em bandeiras das respectivas regiões, a volta das quais as populações se mobilizam e se revem e o efeito exemplo, pois a existência de equipas de competição com sucesso desportivo leva sempre ao aumento da pratica desse desporto entre os jovens. 

Na realidade, uma política desportiva autárquica deveria, nos dias de hoje, compreender e fornecer três tipos de apoio, totalmente complementares, o Apoio à actividade de formação dos clubes; o Apoio ao desporto competição e o Apoio ao desenvolvimento das infra-estruturas desportivas próprias. Investir num destes apoios sem a totalidade dos outros, arrisca-se a não dar em nada.

No ponto de vista dos clubes, estes estudos vieram demonstrar que uma estratégia de sucesso para a EDV, precisa, actualmente, de dar resposta aos três aspectos fundamentais. A EDV necessita de continuar a ter uma política de formação que mobilize os jovens da cidade e da região bem como aos respectivos pais, para sustentar o sucesso desportivo das equipas de competição duma forma continuada, precisa de uma política desportiva que aproveite ao máximo os factores competitivos em que o clube seja mais forte, assim como de uma política de infra-estruturas que permita o desenvolvimento tanto da sua formação como da sua competição. 

Fernando Pessoa disse há algum tempo atrás: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.” 

A EDV precisa rapidamente de consolidar o seu Projecto Desportivo, investindo toda a sua atenção na concretização daquele aspecto em falta – As Infra-estruturas. 

Precisamos de honrar o nosso Passado, os nossos atletas, treinadores e dirigentes, através de um Museu, eternizando os seus brilhantes feitos e dando face a tantos anónimos ilustres, filhos desta Cidade que tanto deram ao clube. Precisamos de uma sede capaz de responder aos novos desafios, dando mais visibilidade à nova imagem do Clube, mais moderna e funcional. 

Precisamos urgentemente de novos espaços para áreas desportivas fundamentais como a Ginástica, a Esgrima e a Patinagem que se encontram totalmente asfixiadas nos seus locais de prática actual, pondo em causa a sua viabilidade económica assim como a Qualidade da Formação, numa Formação que se quer de Qualidade. 

A natação não pode estar constantemente dependente de pressões externas numa lógica de indecisão anual quanto ao número de espaços disponíveis, com prejuízos insuportáveis no seu processo formativo/desportivo, numa instabilidade estrutural que não é desejável nem recomendada, perante o seu historial de sucesso na cidade e no país. 

Temos de continuar a investir em Protocolos de Cooperação com outras instituições, nomeadamente com as instituições educativas, onde o Basquetebol Feminino é sinónimo de sucesso, numa parceria com o Desporto Escolar, permitindo uma associação da formação de base na Escola, à especialização desportiva no Clube e o Hóquei em Patins, unindo duas instituições desportivas da mesma modalidade, com vertentes mais diversificadas, uma a EDV com cariz mais formativa, a uma outra, a Juventude de Viana, com cariz mais competitiva, completando-se e unindo esforços, reforçam a modalidade e o processo formativo dos atletas, respeitando a história e o espaço de cada clube. 

Se temos os melhores quadros técnicos, contendo treinadores dedicados, qualificados e reconhecidos nacional e internacionalmente, se temos os melhores atletas, de todas as idades e sexos, com diferentes capacidades e resultados, em tão diferentes modalidades, sejam colectivas ou individuais, se temos um corpo dirigente único, responsável e incansável, composto por mulheres e homens unidos num só propósito, então necessitamos de espaços compatíveis à nossa ambição: temos que FORMAR COM QUALIDADE melhorando a QUALIDADE NA FORMAÇÃO. 

Sem esse apoio eficaz, não será possível à EDV, afirmar-se nas competições nacionais, pois continuamos a precisar de ser muito melhores que os outros para obter o mesmo nível de resultados. A existência de novos espaços face à procura constante dos nossos serviços será a garantia de futuro de 
cada uma das diferentes secções. 

Facilmente concluímos que, o estabelecimento de parcerias estratégicas, onde a autarquia se destaca como parceiro fundamental, é hoje um procedimento incontornável e claramente aconselhável a fim de, conjugando os vários interesses, viabilizar financeira e qualitativamente a EDV. 

Dois caminhos óbvios se abrem à EDV. Por um lado, pode manter-se fiel às formas de gestão e fontes de financiamento tradicionais. Consequentemente verá os seus adversários ultrapassá-lo e possivelmente a cidade e a região virar-lhe costas. O outro caminho passa por evoluir para uma crescente profissionalização da sua gestão e criação de espaços próprios para assim atrair novos utilizadores. Só assim será possível à EDV investir em infra-estruturas desportivas (coisa que não fez nos últimos trinta e seis anos) e melhorar as suas prestações formativas/competitivas. No entanto, esta opção vai transformar o clube numa entidade que pouco ou nada vão ter a ver o “romantismo” e bairrismo de outros tempos. Há que fazer escolhas e arriscar! 

Como diz o grande mestre de gestão Michael Porter quando fala da forma como os clubes podem obter vantagens competitivas sobre a concorrência, “no meio é que não se pode estar, no meio não está a virtude, ou se vai num sentido ou no outro. Quem fica a meio caminho e não se decide, acaba por só ter um futuro possível: para baixo.” 

Que o Estado cumpra a sua parte e que o nosso Clube seja competente no aproveitar de oportunidades, num mundo tremendamente concorrencial que emerge diante dos nossos olhos em cada dia. O objectivo é sermos capazes de entender a mudança, melhor, sermos capazes de a antecipar ou, em alternativa, saber gerir o imprevisto. Essencialmente temos de entender que estamos num mundo plano…o mundo global. 

Nós somos um clube para uma Cidade, nós somos Viana, queremos continuar a ser e somos uma Bandeira, nós somos cada vez mais um Exemplo, nós somos a Escola Desportiva de Viana. 

Rui Jorge Martins Silva
- Presidente da Escola Desportiva de Viana - 

Discurso do Presidente da Escola Desportiva de Viana no jantar do 36º aniversário da Associação
Viana do Castelo, 11 de Maio de 2012

Originalmente publicado aqui

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